ENTREVISTA DA AZEALIA BANKS PARA BILLBOARD

0 Comments

Parte 1: http://bit.ly/billboardpart1kbbr
'Quando vi Azealia pela primeira vez ela estava em um bar em Nova York com gente todos os tipos
da indústria da música', diz o membro do Vampire Weekend, Ezra Koenig. 'Ela estava usando piadas de 'sua mãe' para responder a um cara branco e velho que a provocava. Eu adoro a combinação de paixão, verdade e irreverência da Azealia. Você consegue escutar em suas música, também.' Banks irá à guerra com qualquer um - ou qualquer coisa, incluindo instituições como o hip hop e o Fox News, mas ela também está em uma guerra consigo mesma. Seus tweets podem demonstrar suas ideias tanto quanto as sobrepõe. Banks diz oque pensa sobre privilégio branco, mulheres no rap, desejos femininos e demônios pessoais. Ela também é provocadora no sentido mais puro da palavra: 'Eu não estou aqui para ser seu ídolo, porque eu provavelmente vou fazer algumas merdas,' ela admite. 'Eu provavelmente vou xingar algum velho branco e você vai ficar tipo 'Que porra tá acontecendo??'.

Usar as redes sociais quase como uma forma de arte, na intenção de chocar, e também como uma forma de terapia, a coloca num tipo de artistas que inclui Courtney Love, Lil' Kim, Marilyn Manson e até mesmo Madonna. 'Azealia Banks é uma artista incrível e torturada.' a atriz e fã de Azealia, Ilana Glazer, diz à Billboard. 'É ótimo o fato de uma pessoa como ela realmente existir nos tempos atuais' diz Ebro Darden, dono da rádio Hot 97, 'ela pode parecer agressiva, emotiva e nervosa, e uma vez que te pintam como agressiva, isso fica  acima de tudo oque você tem a dizer. Mas eu acho que o que ela tem a dizer é de grande importância.'
Quando Banks chega ao apartamento, ela está usando um top branco que foi pintado de arco-íris, um monte de colares com santos, um boné de beisebol e um par de sapatos de couro, do tipo que separa cada dedo. Ela precisa desse 'visual nerd' pois está 'sempre coletando pedras e varetas e praticando bruxaria' ela diz, pontuando que é muito envolvida com divindades e feitiços. 'Eu estou sempre na terra'.

"Essa Banks é uma mulher diferente da que recentemente posou para a Playboy, vestindo uma fantasia de gato feita com latéx (ela também brinca sensualmente em uma piscina de criança cheia de leite). Nessa entrevista, que revigorou o público que fica em cima de Banks como uma nuvem de tempestade, ela faz uma extensiva crítica à América Branca, tocando em assuntos delicados como obesidade e os estados republicanos. 'Eu odeio tudo nesse país', ela disse. 'Todas as pessoas que estão dentro da América, a verdadeira gordura e carne da América.' A Fox News, em resposta, sugeriu que Banks deveria ser deportada - na interpretação dela, que 'deveria voltar para a África e retirar seu clitóris'.
'São as respostas que dão para o que eu digo que provam que estou certa', diz Banks, mencionando os comentários enquanto ensopa o frango com vinagre. 'Eu estava fazendo uma piada, pois a cultura americana é cheia de gula. Nós somos tipo, a Grande Gula. Você quer miojo? Aqui estão 24 em uma só caixa. Talvez eu não devesse ter dito aqui, mas quem se importa? Quando você erra, você tem de errar logo.'

Se alguma pessoa com 23 anos pode falar sobre a natureza dos erros, essa pessoa é Banks: Quando '212' a fez a aposta do rap, ela já havia sido demitida de sua primeira gravadora, XL Records. Banks cresceu no Harlem; sua mãe criou ela e suas duas irmãs mais velhas depois de seu pai ter morrido com câncer quando ela tinha apenas dois anos. Ela sempre quis ser uma artista. Aos 14 anos, ela entrou na Escola de Música, Artes e Performances LaGuardia e preparou oque ela chama de 'plano de dominação do mundo'. 'Eu iria para a Nickelodeon ou seria uma atriz da Disney. Eles tinham programas como As Visões da Raven, e eu ficava tipo, 'eu quero fazer parte disso'."

Banks começou a fazer rap após assistir seu namorado do ensino médio e os amigos dele fazerem freestyle. 'Eu estava escrevendo esse pequeno rap no meu canto', ela relembra, 'Eu o apresentei e eles ficaram tipo 'puta merda, você sabe fazer rap - você precisa continuar com isso!' Ela gravou algumas faixas e as lançou no MySpace em 2008, usando o pseudônimo 'Mi$$ Bank$'. O produtor/DJ Diplo a ajudou contatando a gravadora Xl Records após Azealia o ter enviado uma música intitulada 'Seventeen', a gravadora a levou para Londres para eles planejarem um contrato - quando ela tinha apenas 17 anos. O acordo, entretanto, durou menos que um ano.

'A XL me via como essa garota que iria reinventar o rap' diz Banks. 'Eles queriam que eu fizesse um EP para eles lucrarem com a fodasticidade dele, mas eu não estava pronta. Eu precisava de supervisão.' Após perder o contrato, ela voou de volta para casa e entrou em uma profunda depressão, trabalhando no Starbucks e em clube de strip para poder se alimentar. Mas como ela tinha orgulho de si mesma, ela decidiu lançar 212 de forma independente, gravou a faixa no quarto de um amigo e a lançou no YouTube com um vídeo simples em preto e branco no qual ela dança usando uma camiseta suja do Mickey Mouse enquanto faz carão para a câmera.

O hino fez a menina de 19 anos se tornar uma estrela, a garota mais foda de Nova York, e eventualmente vendeu 250.000 cópias após ela o lançar digitalmente. Ela trabalhou com uma batida divertida feita por Lazy Jay, fazendo rap, e cantando graciosamente enquanto faz referências a masturbação feminina em uma mistura do hip-hop com o pop brilhante. Ela faz tudo isso com a facilidade de uma artista que passou toda a sua vida na internet, encontrando suas influências. 'Eu sou da era da Internet', diz Banks, 'Eu criei meu twitter quando tinha 16 anos. Eu tive a porra de um Napster no mesmo momento que o Napster saiu. Eu fazia várias contas naquelas páginas estranhas estilo orkut nas quais você podia encher o layout de glitter, borboletas e essas merdas.'


"Mas em 2012, quando Banks assinou com a Interscope e começou a viajar pelo mundo, a vida ficou bagunçada novamente. Enquanto ela compunha e gravava Broke With Expensive Taste, sua gravadora a bloqueou criativamente, tentando forçá-la a fazer músicas farofa. Enquanto seu álbum era negligenciado, ela expôs sua raiva no Twitter. 'Eu me senti como um animal em uma gaiola,' ela diz. 'Eu sou essa moça de vinte e poucos anos que acabou de se tornar milionária, e eu só estou tipo 'Porra, cadê o meu cd?' as coisas começaram a se misturar e eu estava atingindo certos pontos de insanidade.'

Banks começou a usar o Twitter como uma arma e um bizarro projeto artístico, um lugar para demostrar suas tristezas e desejos. 'Eu sempre vou lá atrás de uma forma de me distrair do fato que sou uma pessoa', ela explica. Depois de a rapper Angel Haze ter começado uma discussão com Banks em 2013 e o dono de um blog de fofocas, Perez Hilton, ter se intrometido e ficado ao lado de Haze, Banks falou que Hilton era um 'viado problemático' que acabou levando a uma discussão que terminou com ela dizendo que Perez deveria ir 'engolir um pau'. (Hoje, Banks, que é bissexual, se recusa a falar novamente sobre o incidente - 'eu estou cansada de falar sobre isso' - contudo, em uma conversa privada, diz que 'todos os meus fãs são homossexuais'.) Ela destilou seu veneno em praticamente todo mundo: Igloo Australia, Kreayshawn, T.I, Lil' Kim, Rita Oral, Nicki Minaj e sua própria equipe. Ela ate mesmo implorou publicamente por uma forma de sair do contrato que havia assinado com a Interscope. Finalmente liberta em Julho de 2014, ela twittou: 'Finalmente livre!! .... Estou me sentindo como senhorita Celie no final de A Cor Púrpura.'.

Sem gravadora e sem álbum lançado, Banks ficou preocupada com a chance de sua reputação online ter ficado acima de sua música. 'Chegou uma hora em que eu estava questionando tudo', ela diz. 'Estou escovando meus dentes no horário errado? Estou bebendo demais? Fumando maconha demais? Oque eu fiz?'.

Então ela começou a tomar o controle novamente. 'Eu não peço conselhos a ninguém' ela avisa. 'Eu faço oque eu quero'. O seu álbum lançado sem avisos em Novembro de 2014, Broke With Expensive Taste, apesar de ela não ter lançado uma versão física até o dia 27 de Março de 2015, vendeu apenas 31.000 cópias até agora. Contudo, a música é tão densa e inovadora quanto '212', com infinitas influências diferentes, incluindo garage rock (o cantor grunge Ariel Pink produziu 'Nude Beach A-go-go). E Banks começa uma turnê esse ano com uma banda completa pela primeira vez - uma moça que ela conheceu quando estava 'no salão fazendo as unhas' recomendou o grupo - tendo o primeiro show no grande festival de música Coachella. 'Todos me diziam que ela era impossível, altamente difícil de lidar' diz o presidente da Prospect Park, Jeff Kwatinetz, seu assessor desde Setembro de 2014. 'Ela tem muitas histórias, muitos desafios. Mas ela é a artista mais talentosa com quem já trabalhei.' A meta para 2015? 'Fazer as pessoas focarem na música dela'.

Em casa, Banks anda explorando um estilo de vida mais excêntrico. Ela escuta o livro em áudio de Ralph Waldo Emerson, 'Auto-confiança' constantemente, ela acorda todas as noites às 3 horas da madruga para beber vinho tinto e trabalhar no seu mais novo projeto: um livro que irá contar 'A Fábula de Azealia Banks'. Ela escreve ele e os seus raps enquanto está em pé, colocando papel de parede em sua casa, e derramando palavras até um alarme, que ela programa para tocar de uma hora em uma hora, apita. 'Eu bebo, eu fumo maconha, e não tomo banho.' ela revela sobre sua rotina de trabalho. 'De vez em quando dou uma pausa para tocar siririca e conversar com o meu próprio reflexo por algumas horas. É uma espécie de psicose. Eu trabalho durante os horários mágicos, 3 da madrugada, 4 da madrugada, quando todos os escritores e músicos mortos e fracassados estão vagando por aí'.

Após por a massa no ensopado, Banks lê o primeiro capítulo de seu livro: 'Era uma vez um recipiente, o recipiente estava cheio de espaço. Dentro do espaço havia luzes brancas e matéria negra...' Ela o lê por meia hora, contando uma teoria metafísica que fala sobre problemas raciais na América. É mais complexo que a forma que ela tocou no assunto durante sua entrevista à Playboy, exigindo as reparações dos danos causados pela escravatura e opressão.


Com o livro, Banks pretende mostrar às pessoas como sua mente funciona - o quão profundamente ela pensa sobre sua música e as fortes mensagens que publica na internet. Mas ela continua participando de discussões. Recentemente, Banks enviou um tweet (e rapidamente deletou) com uma foto de sua vagina para o blogger conservador Matt Walsh, que a criticou pela entrevista concedida à Playboy. Estes são os elementos trabalhando dentro de Banks com diferentes propósitos: Ela é inteligente e pensativa pessoalmente, esclarecida e intelectual o suficiente para debater sobre raça, política e gênero com propriedade e gentilidade. Mas então ela tweeta e o ciclo começa novamente.

De volta à cozinha, ela fala um pouco sobre o que pensa sobre raça. 'Eu li esse artigo de Ta-Nehisi Coates' ela diz, se referindo à publicação feita pela revista Atlantic em 2014 cobrando por uma taxa a ser paga para os negros devido aos anos de escravidão e opressão. 'Foi brilhante!! Essa é a única forma de nós (negros) seguirmos em frente.' Ela continua ao fazer uma referência ao seu antigo colega de trabalho (e alvo) Pharrell Williams que recebeu críticas devido a comentários feitos sobre Michael Brown (jovem negro que foi assassinado nos EUA). 'Eu vejo o que gente como Pharrell está dizendo como 'ah, você só precisa trabalhar bastante' mas nós não recebemos as ferramentas. Ele age como se fosse o primeiro negro a trabalhar bastante e que se todos agissem como ele iriam sair da fossa. Você e eu, Pharrell, nós conseguimos. Nós somos pessoas negras inofensivas.' ela continua, então faz uma pausa. 'Bem, obviamente eu sou muito agressiva. Mas não sou perigosa. Eu jamais iria atropelar alguém com a porra do meu carro'.

Banks fez suas mais duras críticas a Kendrick Lamar em Janeiro após ele ter dito à Billboard ' Oque aconteceu com Michael Brown jamais deveria ter acontecido. Jamais. Mas se nós não nos damos o respeito, como vamos esperar que eles nos respeitem?' Ela fez uma enxurrada de publicações, em uma lê-se 'Como você ousa ir até uma revista branca e alegar que nós não nos respeitamos?'  Ela diz que mesmo sendo uma pessoa que não impõe muito limites em si mesma, há momentos e lugares certos para determinadas declarações. 'Essas são as conversas que os escravos tinham na senzala. O que nós pensamos de nós mesmos não é para os brancos... Mães estão sofrendo. Esse não é o momento para alegar que esses jovens foram executados porque 'não se davam ao respeito'."

E ainda assim, foi capa da Playboy - uma revista, historicamente, feita para gente branca, particularmente homens brancos. Ela se arrepia quando perguntamos se ela se considera uma feminista. 'Eu acredito que sim, mas eu também gosto de homens e da atenção masculina', ela diz. 'Eu gosto de sexo, posar para a Playboy foi mais simples que fazer uma declaração. Eu fiquei tipo 'vou ter fotos profissionais da minha xereca? PORRA, é claro que quero!!' Kwatinetz alega: 'Minha primeira reação ao convite da Playboy foi 'de jeito nenhum!', todavia, eu perguntei para outras pessoas no escritório e eles falaram 'Pode ser algo interessante...'. Apesar dela dar pouca importância, Banks claramente vê o ensaio fotográfico como uma forma de provocação, dizendo que 'as pessoas sentem tanta repulsa a mim, visto que eu sou uma pessoa que tão 8 ou 80, que ninguém quer me ver nua.'

De qualquer forma, o ensaio para a Playboy foi da forma que ela queria ('eu amo gatos') e ela não se envergonha de sua sexualiade. Seu amor platônico? Barack Obama. 'Ele é tão elegante. Aqueles dentes brancos e aquelas orelhas caindo de sua cabeça... Eu penso 'Meu Deus, eu quero transar com o presidente'. Na vida real, ela diz, 'Eu durmo com os seguranças. Eu amo seguranças. Eles são esses homens ignorantes, brancos e carecas com olhos azuis. E eu também transo com muitas das minhas amigas. É uma questão de proximidade. E é por isso que eu vou chamar o meu próximo álbum de 'Business & Pleasure' (Negócios e Prazer), porque eu estou sempre misturando os dois.'

Ela confessa que caso ela vá domar sua sexualidade, será para entrar em um relacionamento estável. Seu primeiro grande relacionamento, quando ela tinha 17 anos, foi com um cara de 43 anos que batia nela. 'Ele não se importava comigo', ela diz. 'Eu definitivamente aprendi minha lição'. Atualmente, ela diz, 'Eu quero um homem realmente inteligente, que conte várias piadas estúpidas e etc. Eu preciso me controlar para conseguir o que quero.'

Banks começou a derramar delicadas pitadas de tempero sob o ensopado, enquanto sua amiga e cabeleireira Liz chegava, 'Eu poderia ser uma chef' a rappers diz. De fato, a refeição estava tão deliciosa que todos nós ficamos completamente quietos. Talvez, ela realmente possa ser uma chef - mostrar ao publico outro lado que ele desconhece. E então ela interrompe o silêncio 'Liz, você acha que eu preciso de peitos maiores??' Ela aperta seus seios. 'Eu estou preparada para operar meus peitos, já até paguei a cirurgia.' - com um depósito de 9.000 reais, que ela já realizou. 'Eu tenho medo da anestesia' Liz diz.

Banks é uma metamorfose ambulante, às vezes auto-destrutiva - indo de uma Deusa das Donas de Casa até uma artista cheia de presença de palco, de uma rapper talentosíssima até uma pessoa problemática, de uma brilhante pop star e recomeçando o ciclo. É algo que recebe mais atenção que suas conquistas como musicista, mas, como ela sabe, a mantém nos noticiários. ''Celebridades são celebradas, e eu acho que não sou celebrada' diz Banks. ''Mas quem sabe um dia! Seria maneiro. Eu só não quero ser esquecida enquanto estiver viva'."


Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.